Oi! Hoje a minha parte da newsletter vai ser mais curtinha porque eu tive coisa demais pra fazer no trabalho 💀 mas meu amigo magnets321 me deu uma força escrevendo sobre os shows de aniversário do Green Day (que tem tudo a ver com o tema dessa semana). Obrigado por entenderem!

Faz mais ou menos um mês que eu abri meu Instagram e fui pego de surpresa. A Run For Cover Records anunciou uma edição especial de dez anos de um dos álbuns formativos da minha adolescência: You’re Gonna Miss It All, do Modern Baseball. Versão deluxe, livro de fotos, demos inéditas, vocês sabem como é. A idade bateu…
E eu me lembrei de tudo que eu tinha passado com esse álbum. Subindo a ladeira da Ruy Carneiro pra ir pra escola, e depois pra pegar um ônibus pra universidade, ouvindo as letras juvenis deles e me identificando mais do que eu gostaria. I make everything collapse even when it’s glued together. Apresentando eles pros meus colegas de banda, tentando evocar um pouco da energia jovem e das qualidades pop dessa querida banda apelidada de MoBo. Primeiro imaginando como seria passar por algumas das situações descritas nas letras (eu não era o mais sociável dos jovens de 16 anos), e depois reparando que aquelas músicas passavam a ter cada vez mais sentido. A catarse de gritar letra por letra de Your Graduation, dirigindo com o som no máximo ou tocando guitarra no meu quarto. Go ahead and walk away.
Pra quem não conhece (é uma banda meio de nicho mesmo), Modern Baseball foi uma banda emo (emo-pop? pop-punk?) do começo dos anos 2010, que lançou três álbuns, alguns EPs, e depois sumiu/entrou em hiato sem muita cerimônia. O último show deles foi no fim de 2017, o último post no Instagram (até esse anúncio) tinha sido no meio de 2018 e, pra ser bem sincero, demorou um tempo até eu entender que a banda tinha, para todos os efeitos, acabado.
O fato de que eu demorei um pouco mais pra digerir o último disco deles, Holy Ghost, foi certamente um fator. Também existe a questão de que eu nunca esperei que eu conseguisse ver eles ao vivo, em parte pela pouca fama que esse nicho do Emo Revival americano teve aqui no seu auge, em parte por eu morar bem longe de São Paulo de qualquer forma, onde qualquer banda vem parar, então eu nunca prestei atenção em datas de turnê deles de qualquer forma.
Mas eu nunca parei de ouvir. E a banda se manteve viva, ao menos quando eu tocava o riff de Broken Cash Machine na guitarra ou quando eu puxava eles de referência pra alguma música da minha banda. A dinâmica de composição no You’re Gonna Miss It All também sempre me cativou muito: os dois compositores, Bren Lukens e Jake Ewald, se alternam como cantores principais a cada música, o que acaba culminando num disco que mais parece com dois amigos desabafando um pro outro. Um dos efeitos de fazer música confessional é esse, o ouvinte acaba concluindo um pouco sobre a sua personalidade. Se o Lukens de Fine Great e Charlie Black parece um confrontador pessimista, o Ewald de Pothole e Apartment parece mais um romântico tímido. E certamente mais fã de Country.
Por tudo que eu sei, o Modern Baseball não volta. Bren Lukens passou por alguns problemas sérios de saúde mental durante a produção do Holy Ghost e durante a turnê subsequente, todos os outros membros seguiram em outros projetos. E de qualquer forma, existe algo tão essencialmente jovem em tudo que eles fizeram que eu sinto que a progressão natural da banda seria realmente de mudar fundamentalmente ou parar. Mas eu sou muito grato pelas músicas que eles fizeram e por todos os momentos que eu passei ouvindo eles. E muita gente também é. Existe toda uma comunidade de “órfãos” do MoBo, gravando seus covers, ensinando outros a tocarem, explicando icebergs no Youtube, deixando um comentário no Instagram, no last.fm, em algum vídeo sobre eles.
O próprio nome do álbum é bem relevante frente a seu legado. Em 2014, era uma previsão — você vai sentir falta de tudo que você está vivendo agora. Em dez anos, seus problemas, seus amigos, suas paixões, sua vida como um todo não será a mesma. E tudo vai fazer falta. Em 2024 nem a própria banda que previu isso existe mais. Mas não quer dizer que tenha deixado de ser verdade.
Green Day ao vivo em Arnhem, Países Baixos
por @magnets321
Duas semanas atrás eu realizei um sonho de adolescência: fui a um show do Green Day. E um show especial, comemorando:
30 anos de Dookie! O álbum que levou o Green Day para o mainstream, contendo os hits Basket Case, Welcome to Paradise, Longview, She e When I Come Around.
E 20 anos de American Idiot! Quatorze anos atrás, quando eu tinha catorze anos, ele definitivamente figurava no meu top 10 álbuns.1 Em 2024 ele não entrou no meu top 20 - talvez a necessidade de rankear arte tenha me impedido de incluí-lo na minha lista para o top álbuns da bolha do Vitor. Fiquei preso na eterna dúvida - essa obra é objetivamente boa ou é só uma das minhas favoritas? Eu sei que a faixa-título é boa pra pular e talvez quebrar alguma coisa, Jesus of Suburbia é um épico do rock e Boulevard of Broken Dreams é pelo menos tão boa quanto Wonderwall, mas será que eu não estou supervalorizando esse pop-punk só porque foi a primeira coisa que eu ouvi depois de Beatles? Será que se eu tivesse ouvido primeiro Brand New, ou Fall Out Boy, ou My Chemical Romance, as minhas opiniões seriam diferentes? Minha esposa é mais assertiva e incluiu essa obra prima do Green Day no seu top 20, e eu sei que ela não foi a única!2
O show foi no estádio do Vitesse, e me surpreendeu constatar que o Green Day é uma banda que lota estádio — eram 40 mil pessoas sob o teto retrátil da Gelredome Arena. Mas se a quantidade de pessoas impressionava, a empolgação do público não. Eu cometi o erro de comprar um ingresso na arquibancada, e só me senti confortável pra ficar de pé quando Billie Joe Armstrong, já nas primeiras faixas do Dookie, convocou a plateia: “levantem, é a porra de um show de rock, não a sala de espera do dentista!” Eu culparia o povo neerlandês, mas lembro de meu amigo Pedro Kanan, que foi repreendido por um autêntico brasileiro ao ficar de pé no show do Paul McCartney. Há de ser dito também que Billie Joe não é exatamente o frontman mais inspirador de todos. Seu repertório consiste basicamente em “joguem as mãos pro alto, galera”, “cantem comigo: eôooo eôoooooo” e “vocês são o melhor país do mundo!”. O Howlin' Pelle, dos Hives, que abriram pro Green Day, provavelmente entregou muito mais interação com a plateia.3
Mas nada disso foi capaz de conter minha empolgação quando a nuvem de cogumelo da capa do Dookie surgiu no palco, e ainda menos quando foi a vez da granada em formato de coração do American Idiot. A banda tocou ambos álbuns na íntegra, com uma sonoridade extremamente fiel aos discos. Pra manter essa fidelidade (especialmente no American Idiot), o trio do Green Day é complementado por Jason White e Kevin Preston nas guitarras, e Jason Freese nos teclados. Mas se você assistir o show pelo telão (como eu tive que fazer), a impressão é que se trata apenas do trio Billie Joe, Mike Dirnt e Tré Cool, e eu acho isso adequado, já que eles são os rostos do Green Day há três décadas.
Os vocais de Billie Joe seguem bem afiados e Mike Dirnt também entregou empolgação, passeando pelo palco enquanto executava seus riffs icônicos no contrabaixo. Mas a estrela do show, pra mim, foi Tré Cool. Visualmente, ele é o mais tiozão do trio, totalmente bonecasso detonando na bateria. E às vezes deixam ele cantar! Um Ringo Starr do pop punk. A hidden track do Dookie, All by Myself, foi provavelmente a maior diferença entre os álbuns e a versão ao vivo. No show, ela foi tocada em uma versão “orquestral”, com Tré Cool de roupão desfilando pelo palco. Memorável.
Entre os dois álbuns icônicos, o Green Day ainda encaixou alguns clássicos de seu repertório, como Brain Stew e Minority, mas a maior parte do tempo restante foi dedicada a celebrar 0 anos de lançamento de Saviors!
Um invejoso aí da internet disse que o novo álbum do Green Day foi totalmente esquecível. Mas eu fui nesse show a duas semanas e ainda lembro de algumas músicas! Tocadas uma atrás da outra, é quase impossível saber quais são as músicas novas e quais são antigas – a qualidade e o estilo do Green Day são bem consistentes. Se uma banda lança um álbum com músicas muito parecidas com as de 30 anos atrás, isso é ruim? Só por parecer algo antigo, a arte tem menos valor? Uma faixa de pop punk lançada em 2004 é melhor que uma lançada em 2024, mesmo se ambas tem 3 acordes e uma letra sobre masturbação4, só porque a primeira veio antes? Eu imagino que não vai ter uma turnê de 20 anos do Saviors, mas só porque quando isso acontecer também vão ser os 50 anos do Dookie e os 40 do American Idiot.
O bis teve Bobby Sox, do álbum novo, e ‘Good Riddance’, do fundo do baú. E as duas se complementam bem – um pop rock melódico que tem apelo pra todo mundo. Apropriado para encerrar um show que teve um público repleto de famílias – casais, gente de cabelo branco e crianças que nem devem saber o que é um Green Day.
Antes da atração principal subir ao palco, o som do estádio tocou Queen, Ramones, I Love Rock ’N Roll e a marcha imperial de Star Wars. No meio do show, Billie Joe puxou trechos de Sweet Child O’ Mine e Iron Man. E talvez seja esse o papel do Green Day agora. Lotar estádios, tocar os clássicos e manter acesa a chama do bom e velho rock’n’roll. Talvez pra geração Z eles já façam parte do panteão dos grandes atos do passado – algo tão antigo quanto We Will Rock You, Blitzkrieg Bop, ou a música do Frank Sinatra que toca após a banda deixar o palco. Mas não quer dizer que eles não são mais capazes de lançar um banger queer eventualmente.
Por fim, gostaria de agradecer ao dono desse newsletter e deixar algumas perguntas pra vocês, fiéis leitores da vitor escreve sobre música:
Qual foi o último álbum do Green Day que vocês ouviram?
Green Day lota estádio no Brasil? Quais bandas de rock atualmente lotam estádio no Brasil? E quais estádios?
Vocês preferem o Dookie ou o American Idiot (ou algum outro álbum do power trio de Rodeo, California)? Por quê?
E quais vocês diriam que são os maiores hits do Green Day? Pela reação do público no show, eu tive a impressão que são Basket Case, American Idiot e Boulevard of Broken Dreams. 🤔
obrigado por ler a edição dessa semana! espero que tenha sido divertido. acho que já fechei o tema da próxima edição! comentem o que vocês acharam e acompanhem a playlist dessa edição :)
e, por sinal, qual o álbum favorito de vocês de um ano terminado com 4?
Provavelmente porque eu só tinha ouvido 10 álbuns
Vitor: Foram dois votos! Um no American Idiot, um no Dookie
Infelizmente eu não estava lá pra presenciar, devido a problemas com os trens, mas os comentários são de que as bandas de abertura foram majoritariamente ignoradas pelos que chegaram cedo o suficiente pra assisti-las.
Ou sei lá, alguma coisa sobre os Estados Unidos serem um lugar meio zoado.
Era fãzaço do Green Day na adolescência! Tinha CDs, DVDs, camisetas, pôsteres, etc. Parei de escutar na era ¡Uno! ¡Dos! ¡Tré! e nem conferi o Saviors (essa newsletter talvez mude isto). Apesar desse esquecimento, afirmo com convicção que a banda lota estádios no Brasil, sempre foram bastante populares e com uma presença de palco marcante (ainda que repetitiva, como você disse). Dookie ou American Idiot? Difícil de dizer, especialmente alguém indeciso como eu, mas diria que na adolescência American Idiot era meu go-to e hoje em dia o Dookie e classic Green Day (dito isso, sempre escutei e amei ambos). Tenho que concordar com seu ranking de maiores hits, mas também adicionaria Good Riddance (Time of Your Life), que foi muito popular na época, mas hoje em dia fica na sombra destes outros titãs aqui citados. Enfim, Green Day pra mim foi uma banda formadora e sempre será especial, o que me faz refletir sobre o que Vítor escreveu em seu texto. Escutar Green Day, hoje, pra mim é uma viagem no tempo que ressucita memórias de uma época onde meus gostos eram totalmente diferentes. No entanto, não torna o sentimento menos genuíno, e voltei a escutar GD depois de anos recentemente, com ótimos resultados. Um dia espero ter a oportunidade de ver ao vivo o Billie Joe dizendo que [país do show] é o melhor país em que eles já tocaram!
eu fui fortemente encorajado a escutar Modern Baseball algumas vezes no ano passado, mas nunca ouvi nenhuma album inteiro, na verdade, meio que evitei bastante esse ano. estou ouvindo agora por sua recomendação. estou gostando bastante.
Acho que os momentos felizes em períodos sombrios das nossas vidas tendem a ser lembrados com mais carinho, porque eram mais raros. Talvez por esse motivo as musicas que eu escutava em momentos mais tristes são as que eu lembro com mais carinho. A musica sempre está lá para oferecer suporte e para tornar tudo mais leve.
Deus me livre de ser um dia ser um old-timer, de me recusar a conhecer o novo, mas caramba, as vezes nada é mais gostoso do que se entregar aos prazeres da nostalgia